Araceli Sobreira, uma vez mais, ergue outra envergadura de escrita por meio de um processo de experimentação de linguagens. “A mulher do beija-flor” se mostra como obra que fabrica uma espécie de tessitura do singelo firme – sagrado feminino – associado à urdidura narrativa da escritora experiente. As narrativas de Sobreira passeiam por uma escrita lírica em prosa, trazendo experimentos de linguagens-gêneros: contos, minicontos, contos extensos, densos e leves com diálogos – falados como o bater de asas do beija-flor apaixonado. O livro compõe uma sinfonia de celebração da natureza – “cujo orvalho pingava nos telhados e folhas”. A obra sugere uma tramada imagem coletiva fixada: desde a visão de mulheres nos quintais ouvindo as folhas sinfônicas à mulher do chiar da panela, sendo ela, “A mulher do beija-flor”, a apaixonante de pés descalços. E todo livro da Poeta e Escritora Araceli Sobreira conecta-se à natureza, às cachoeiras, ao som das pedras e da chuva, sempre costurando histórias. Este livro trata de narrares-experimentos-teares: do narrar sobre a mulher apaixonante do jardim que conquista o beija-flor – por todos os seus encantos; e do narrar de teias-teares das linhas da mulher que igualmente pisa firme no chão da sua terra-sagrada-jardim-grama e sabe bem o que conta. E nessa construção de tecidos reverbera em toda a obra uma espécie de Sagrado-latejante: a brincar de ser flecha amorosa em namoro fabular; em calmaria e em rebeldia latejando linha após linha. – Afinal ela, a queimadora das panelas, não poderia não fazer de seu ofício um instrumento de orientação a quem ainda toma “a bença” e costura “uma forte linha no molde” da religiosidade-misticismo. E com a tez e os pés nos lagos-lares-jasmineiros-jardins-sagrados Araceli escreve “as linhas como quem trama os destinos”.
Leila Tabosa
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